Arquivo | agosto, 2012

A perversão da liberdade de expressão

30 ago

Mais triste do que as chacotas é a ignorância. Referir-se a ‘bule’ propagando uma forma errada de escrever, tratar com desdém as ‘professorinhas’, nada mais é que reiterar o descaso do governo com a educação pública e aceitar todas as mazelas do nosso sistema.

Analisando o bullying nas escolas e estimulando as crianças a estudarem o mundo, a filosofia e a antropologia, evitaria, de início, muitos dos problemas de aceitação e coexistência não somente nas escolas, mas na avenida paulista, nas praças, no comércio e em qualquer outro lugar em que o convívio social se faz presente.

A legislação brasileira mostrou-se atrasada ao não reconhecer em tempo as uniões homoafetivas e, em resposta ao clamor social, o STF ‘legislou’ e abriu um precedente para o reconhecimento de união de pessoas do mesmo sexo. Após isso, o poliamor. Antes, famílias monoparentais e assim por diante. Seria melhor deixar tantas crianças ao léu do que permiti-las uma família?

O conceito de família, segundo este senhor, está afastado do encontro amoroso entre barbudos ou freirinhas. Ora, alguém que se julga esclarecido o suficiente para propagar a opinião de que o atentado aos bons costumes ocorrido no Paraná irá estimular o bullying, por si só estigmatiza algo que, segundo a Organização das Nações Unidas, é um direito fundamental de qualquer cidadão.

Chamar filhos adotivos de ‘mentira piedosa’ é algo ofensivo e despido de qualquer espírito de sociedade ou coletividade. A letra fria da lei define que entre filhos naturais ou adotivos não pode haver distinção – lei que, como qualquer outra, tem objetivados os direitos do cidadão e, portanto, salvaguarda aquilo que há de mais importante para qualquer ‘ser’ que possa ser reconhecido como ‘humano’. Ainda, trazer a biologia a esta pauta, me parece ato, com o perdão do trocadilho, estéril. Não se pode ser filho de mulheres sem útero, de homens inférteis, mas se pode ser filho de pessoas sem amor. A escolha da adoção, diferente de muitas outras, parte de um amor que transborda os limites naturais e traz para uma vida, outra que será cuidada e lapidada ao longo dos anos. E apesar dos percalços que a vida pode impor, bem faz o Estado em auxiliar a cidadania e permitir que seres dotados de amor possam dividi-lo e gerar famílias mais sociais – sejam heteros, homos, barbudos, efeminados, cristãs ou de qualquer outro tipo.

Que o abuso da liberdade de expressão hoje percebida, sirva de exemplo para que o juízo de ponderação seja propagado e, em 50 anos, possamos escrever livros sobre o absurdo que perdurou após o advento das constituições cidadãs do século XXI.

http://www.gazetadopovo.com.br/m/conteudo.phtml?tl=1&id=1292008&tit=Perversao-da-adocao